quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Mamã? Porque é que os pais matam os filhos?

Hoje, durante a nossa viagem até à escola, nem sei bem como, começamos a falar sobre homens maus, sobre como os homens maus atraem as crianças para carros e casas com o intuito de lhes fazer mal... Esta é com toda a certeza o maior medo de qualquer pai! E se os nossos filhos são raptados porque não entendem que existem pessoas más por este mundo afora que num piscar de olhos nos roubam do bem mais precioso que nós temos? Ah já me lembro, sem mais ela virou-se para mim e disse que tinha ouvido que enquanto o pai piscou os olhos, as duas crianças não estavam mais lá. Não sei onde ouviu mas desconfio que ouviu alguém a comentar alguma notícia no jornal ou então e como já sabe ler e agora tem a mania de ler os cabeçalhos dos jornais, terá sido aí que o leu. Disse-me que não era possível que durante um piscar de olhos o pai tivesse perdido os filhos... A partir daqui entabulamos uma conversa clara, mesmo infantil de maneira a que, em primeiro lugar ela não se assustasse e para que entendesse bem do que se tratava. Como qualquer pai, expliquei que neste mundo há pessoas que raptam crianças para ficarem com elas ou para lhes fazer mal, graças a Deus não me perguntou que tipo de maldade porque acho que não seria capaz de lhe explicar as atrocidades que um ser humano igual a ela é capaz de cometer. Claro que lhe disse que se alguém alguma vez se aproxima-se dela e começasse uma conversa normal, que ela deveria ter muito cuidado. Disse que em muitos casos esses seres humanos grotescos tentam saber que tipo de guloseimas, bolos, gostos que uma criança tem para depois lhes dizer que têm um igual no carro ou lá em casa deles... 
Disse lhe ainda que muitas vezes esses seres humanos procuram a simpatia de crianças inocentes ao pedir para os ajudarem a encontrar algum animal perdido ou até mesmo um filho fictício...  É dificil explicar estas coisas mas ela pareceu entender, claro que não fui capaz de lhe dizer que muitas vezes o perigo vem de pessoas próximas de nós, que conhecemos, ficará para outra conversa que não seja dentro do carro a caminho da escola. Disse-lhe que numa situação dessas ela deveria espernear, bater, morder, dar pontapés e gritar para alertar as outras pessoas e até lhe contei de uma situação que aconteceu comigo num supermercado, quando andava às compras com a minha mãe. Já não era criança e sim adolescente. Estava eu a tentar perguntar a um funcionário qualquer coisa quando comecei a sentir alguém muito encostado a mim. A principio pensei ser a minha mãe mas depois algo no meu cérebro e corpo deu sinal e quando olhei, ali estava um homem, vulgarmente vestido, com cabelo encaracolado e barba grande e preta e um dedo indicador esticado a tocar os seus lábios fechados como que a avisar-me para estar calada e não levantar suspeitas. Ainda hoje me lembro bem da cara dele e deste gesto doente e se me pedissem era capaz de o descrever... Escusado será dizer que de imediato me pus aos berros a chamar-lhe todos os nomes e mais alguns o que fez com que todos olhassem para mim e ele, desapareceu em segundos... E se não tivesse sido assim? Mas as perguntas dela não tinham chegado ao fim...
- Mamã? Porque é que os Pais matam os filhos???  Que dizer perante esta questão que tanta confusão lhe faz e que diz respeito a mim e ao seu tão adorado papá? Que dizer a uma criança que nos adora que por vezes e por causa de uma doença mental ou não, há pais que se sentem tão assoberbados, tão assustados, tão doentes, tão ciumentos que atiram uma criança da janela de um qualquer hotel e se suicidam? Tentei lhe dizer que isso era obra de pais muitos doentes mas fiz entender que por doença não queria dizer gripe ou dores de cabeça ou outra daquelas doenças que ela já ouviu cá por casa para não a assustar de cada vez que eu ou o pai estejamos doentes. Disse-lhe da maneira mais normal possível que por vezes os pais ouvem vozes que não estão mesmo lá e sim dentro das suas cabeças e que lhes dizem coisas feias e que os convencem a matar os filhos, ou para os proteger de alguma coisas que eles pensem que lhes poderam fazer mal, ou porque as vozes são más e os papás e mamás estão muito confusos... Que dizer quando há dias em que eu digo que já estou farta de a aturar, que lhe dou uma palmada mais forte, que estou a necessitar de paz e sossego... É que embora eu ache que nunca mas mesmo nunca na minha vida teria coragem para fazer algo semelhante à minha mais que tudo, sei bem que há pessoas que por causa de uma crise de depressão, por causa do desespero e mania da perseguição, mesmo sabendo que o que estão a pensar e fazer é mau, fazem-no na mesma porque não têm controlo sobre si próprios, sobre as próprias emoções e medos... Sei porque já ouvi em primeira mão o que é ter uma depressão. Com o modo como as coisas vão andando, as dificuldades financeiras, os problemas que daí vêm, o stress, a própria vivência em família e em sociedade, nada nos diz que qualquer um de nós não pode vir a ter uma depressão... E mais, como lhe explicar que há seres humanos que se dizem mães e pais, que nunca deveriam ter tido filhos porque por e simplesmente não foram talhados para isso, que matam só porque sim, só porque não conseguiam jogar a um estúpido jogo do facebook... Isso não consigo explicar, nem eu e nem ninguém... Mas mesmo assim acho que me saí bem, é verdade que acredito que ela tenha ficado com mais medo de ao brincar sair da minha vista, de um dia em que eu esteja de mau humor ela num segundo pense que eu a poderia atirar da janela fora, mas infelizmente não conseguimos protege-los de tudo, o melhor que podemos fazer mesmo é alerta-los para o mal que há lá fora para eles próprios se começarem a proteger ao mesmo tempo que lhes mostramos as coisas boas da vida... Como tudo é um Ying e um Yang, o bem e o mal andam de mão dada... resta-nos rezar e explicar,aos bocadinhos e sem assustar muito, que a vida é complicada e não um conto de fadas...

Sem comentários:

Enviar um comentário