Diz-se que desde o momento em que sabemos que estamos grávidas, que de imediato começamos a nutrir um sentimento de amor pelo pimpolho ou pimpolha que temos a crescer dentro de nós... será??? Comigo não foi bem assim! Tenho conversado com algumas mães e todas elas me dizem que desde o primeiro momento sentem o chamado amor de mãe, um laço inquebrável entre a mulher e aquele pequeno ser em crescimento e por isso, são muitas as vezes em que ouvimos uma grávida a falar com o seu filhote ao mesmo tempo que acariciam a barriguinha ou barrigona, conforme o tempo de gestação... Começam a tratar aqueles pequenos seres como se eles já estivessem ali mesmo, ao lado delas e elas pudessem conversar com eles e dar-lhes sermões e ouvir as respostas imaginárias... Penso que muitas há que não sentiram isto mas que por medo de serem ostracizadas nesta sociedade tão conservadora em certos aspectos, e de serem intituladas de más mães antes mesmo dos seus pimpolhos nascerem, que se remetem ao seu silêncio e dúvida e por e simplesmente fingem os tais laços sem ainda os sentirem. Pois eu tenho de ser sincera... eu não senti nada disso! Quer dizer, senti desconforto, barriga inchada, seios enormes e doridos, gazes, indigestão, como se tivesse um boi a nascer dentro de mim tal era o sentimento de ter algo enorme a crescer dentro de mim...não estou a chamar a minha pimpolha de boi, mas no dia em que tive a certeza absoluta de que estava grávida, por e simplesmente não me conseguia sentar pois sentia que já tinha uma barriga enorme e não me podia contrair, nem que fosse somente para me sentar numa cadeira... Foi até engraçado pois nesse dia tinha bilhetes para ver o musical Cats e passei-o todo de pé, a arrotar ou então sentada com os pés no assento da cadeira e o rabioski no encosto da mesma, como se a isto não se pudesse chamar sentar! Eu ia às aulinhas de pré mamã e ficava admirada com as mulheres roliças que por ali andavam constantemente com uma mão na barriga, como se a barriga ou o bebé pudesse cair se não tivessem lá a mão, e a dizer coisas como: "Ai filha! Estás a magoar-me..." ou então " Oh bebé! Tira daí o pé, cabeça, rabo..." Eu limitava-me a aceitar aquele desconforto constante e a bufar por todos os lados de cada vez que tinha de me levantar do chão... Uma vez no carro juro que tentei! O semáforo estava vermelho e eu no meu jipe pus-me a olhar para mim mesma no espelho retrovisor e dei por mim a condenar-me por não sentir, por não falar com aquele serzinho que insistia em crescer sem dó nem piedade nas minhas entranhas e me fazia ficar cada vez mais gorda ( engordei uns senhores respeitáveis 20kilos, mas a bem da verdade se não comesse desmaiava, daí não me fiz de rogada porque não queria cair redonda no chão), e coloquei a mão na minha barriga gigantesca e disse um tímido " Olá!"... e que mais? Devo ter dito algo que ouvia as minhas colegas afortunadas dizer, tipo " Ai bebé, estás mesmo grande como o caraças..." Escusado será dizer que apesar de já nesta altura chorar que nem uma Madalena arrependida por causa do raio das hormonas, desatei a rir porque achei que era completamente ridículo estar para ali sozinha a falar com a minha barriga! Nem mesmo quando tive de fazer o Amniocentese me pus a falar com o bebé, naquela altura e por não ter atendido um raio de um telefonema da clínica que me teria garantido que tudo estava bem com aquele serzinho, fiquei 2 semanas inteirinhas a pensar no que poderia acontecer se me dessem um diagnóstico desfavorável. Chorei, não comi, li livros sobre vidas passadas.. sei lá eu o que fiz até decidir que não aguentava mais e liguei para a clínica que de imediato me disse algo que me fez ter vontade de sair a correr de casa, voar até lá e esganar alguém: "Não, não! Já tínhamos ligado uma vez. Está tudo bem com o seu bebé! Como não atendeu não soube mais cedo..." Estes tipos deviam ter uma cota muito pequena para fazer telefonemas pois não se dignaram a ligar de novo para me dar esta tão necessária e esperada notícia... Enfim passou e nem mesmo depois de me confirmarem que iria ter uma menina eu passei a tratá-la por tu e pelo nome que já tinha escolhido. Confesso que lá para o fim da gravidez eu já andava mais que cansada e cheinha, não só de bebé, porque ela era messsssssmmmmmmo grande, como cheinha de vontade que o raio da miúda finalmente nascesse! Eu dizia a toda a gente que tinha uma gravidez de burra porque nunca mais acabava! Ela nasceu às 40 semanas e 4 dias e isto porque eu liguei à minha médica e disse que já não aguentava mais e ela conseguiu descolar qualquer coisa lá para baixo e eu comecei a ter perdas de liquido amniótico que me fez ficar, então, no hospital. Agora sim, ia finalmente puder ver aquele ser não tão minúsculo que me fazia parecer uma grandessíssima vaca de tão gorda que eu estava!!! Não foi pêra doce, não senhora! Passei as passinhas do Algarve ( ainda um dia alguém me há-de explicar esta expressão...???!!!). Parecia que me estavam a rasgar por dentro conforme iam e vinham as contracções e nada do que tinha aprendido no tal curso de pré mamã foi posto em prática! Eu agarrava-me a tudo o que podia para atenuar as dores e só quando me deram a epidural pude finalmente descansar. Graças aos seus, a epidural foi mesmo muita boa!!! Enfim e resumindo, a pimpolha teve de vir de cesariana pois o processo de dilatação parou aos 6 centímetros e tive de ser levada para as catacumbas para ser esventrada e tirarem de lá de dentro um bebé chorão... Quando estava eu a mentalizar-me de que talvez fosse sentir alguma coisa, voilá!!! Bebé chorão e todo porcalhão à minha frente! Estava tão drogada e completamente amarrada que nem Cristo e toda nuazinha que nem pude agarrar, nem beijar, nem nada aquele bebé que a senhora enfermeira pôs à minha frente por uns míseros segundos porque muito provavelmente tinham mais grávidas a quem tirar os bebés preguiçosos que não queriam nascer da maneira que a natureza entendeu! Logo aí se viu que a pimpolha era teimosa, primeiro não queria nascer e depois e já que foi contrariada, nasceu como quis. Nada de passar por um canal estreitinho e de ser puxada pela cabeça! Toma lá e embrulha mamã!!!
Pronto, depois vieram as preocupações de mãe acabadinha de nascer, sim porque naquela fase nascem três, o bebé, a mãe e o pai, porque de uma hora para a outra passam a ser empregados a tempo inteiro de um ser minúsculo e passam a ter de saber fazer coisas que a Universidade não os ensinou, assim de xofre!!!
Mesmo depois dela nascer, eu olhava para aquela pimpolhinha e ainda não sentia os tais laços maternais, sim queria abraçar e proteger e dar de comer e mudar a fralda, e, e, e... mas ainda não sentia aquela sensação avassaladora que pensava que ia finalmente sentir quando ela nascesse. Ainda para mais não lhe dei de comer pois estava grogue das anestesias e a pimpolha passou a primeira noite da sua vida cá fora no berçário e eu despedi-me assim um dia depois dela ter nascido das noites bem dormidas ( que é como quem diz porque isto de tentar dormir com um barrigão é obra!!!). Fui aprendendo a tomar conta dela, a fazer coisas melhor que a minha mãe, pelo menos é o que eu achava, tipo, que sabes tu mãe??? Eu sei melhor que tu porque é minha a filha... tipo daaaaaa!!!! Ela também já foi mãe, a minha! Mas eu queria lá saber... Acho que há dois tipos de recem mães, as que não sabem nada e toda a gente lhes consegue dizer o que fazer, e aquelas que como eu, acham que todos estão errados e eu é que sei melhor e fazer melhor!!!
Eu andava tão cansada que durante uns tempinhos nem me dei conta se já tinha crescido o tal laço de sangue maternal, até pensava muitas vezes que a minha filha não gostava de mim e chorava baba e ranho, as hormonas são muito culpadas disto, garanto, porque achava que ela nuca iria gostar de mim! Hoje sei que estava prestes a entrar numa depressão pós parto e que graças às pessoas à minha volta, ao meu natural desprendimento emocional e a um livro que li, consegui ultrapassar! As preocupações continuaram pois de cada vez que algo novo acontecia, assaltavam-me os medos, tal qual sombras e esqueletos a espreitar dos tais armários, de que algo não estava bem... Como vêm acho que quase não tive tempo para pensar se afinal tinha ou não criado laços inquebráveis com aquele bebé que chorava e fazia xixi e coco na fralda mais de 10 vezes ao dia e mamava muitíssimo bem ( até ao dia em que começou a preferir biberons e os meus medos e inseguranças de mamã me assaltaram de novo, enfim...)! Um dia dei por mim mais relaxada e a olhar para aquele bebé e senti o meu coração dentro do peito a ficar esmigalhado, como se alguém tivesse enfiado uma mão dentro de mim e gradualmente me estivesse a agarrar o coração e a apertá-lo, e senti finalmente que ali estavam os laços que eu tanto tinha procurado estabelecer, senti que por ela faria tudo e que nunca, mas nunca me queria separar dela...
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