segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Que triste dia!

Hoje acordei a ler uma mensagem que me enviaram e que me despertou de imediato e me fez quase que pular da cama. Imediatamente acordei Dom Maridão e li o que me tinham enviado. Morreu um miúdo de 18 anos! Um miúdo que conheci numa época da minha vida mais feliz e diferente, quando ainda vivia em Lisboa e quando do nada encontrei numas pessoas, amizade e muito humor! Os meus vizinhos da frente! Sempre tinha vivido em plena Lisboa e raros eram aqueles que no meu prédio conhecia, à excepção de duas vizinhas da minha idade e dos seus pais. Talvez mais pessoas do que muita gente conhece em toda a sua vida no seu, prédio... Quando me mudei para os subúrbios, adorei a experiência mas ainda faltava saborear aquela coisa dos vizinhos se cumprimentarem todos, de falarem todos, de trocarem receitas, chás, sei lá, vivências. Isso aconteceu quando vieram morar para a nossa frente um casal com um miúdo, o Nando! Os trés eram super sociáveis e o pai super falador, tanto que gradualmente foi entrando na nossa vida, com as suas conversas sobre o seu trabalho, era militar agora já reformado, da sua esposa, uma brasuca super simpática,  magrinha e com uma adoração pelo filho, marido e patinagem no gelo. O Nando foi entrando na nossa casa por causa dos nossos cães, foi se mostrando um miúdo fantástico, muito brincalhão, fruto de uns pais tão equilibrados e divertidos. Fomos sendo convidados para o serão deles, para falar, beber chazinho, comer um bolinho... Fui aprendendo com aquela família a gostar de ali estar e fiquei-lhes muito grata por me terem porporcionado aquilo que sempre tinha desejado. Ter vizinhos, falar com eles, privar com eles e acima de tudo, divertir-me e passar um bom momento com eles. Fui conhecendo aquela família que estava de algum modo longe da própria família, uns no Brasil, outros no Norte, mas com muitos amigos e fui-me sentindo parte da sua família. O que me sabia bem ir até lá e beber um chazinho e conversar, vi e a modos que participei na vida escolar daquele miúdo, das idas frenéticas todos os fins de semana para os escuteiros... Ele era assim! Conseguia com aquele sorriso e candura fazer amigos. Rápidamente conheceu mais o vizinho de trás e tornaram-se amigos, os vizinhos de baixo, os de cima...todos sabiam quem ele era porque ele falava com todos e mesmo aqueles mais resistentes, aqueles que apenas queriam viver a sua própria vida e não tinham interesse em conhecer aquele miúdo vizinho, acabavam por se render. A ele e a toda a sua família. Hoje é das coisas de que mais tenho saudades, dos meus poucos, muito poucos amigos mas bons amigos e dos meus vizinhos, também eles bem dentro do meu ciclo de amigos. Quando eu e Dom Maridão casamos, eles obviamente também foram convidados e ainda hoje me lembro do Nando a brincar com os outros miúdos e com uma rapariga que tínhamos contratado para tomar conta dos miúdos. Lembro-me de ele ter ficado danado por não ter conseguido levar o ovo na colher e a colher na boca sem deixar cair o ovo, tudo porque queria ser o primeiro a chegar à meta... Quando fiquei grávida ia muitas vezes desabafar com a mãe dele e ele estava lá sempre, com aquele sorriso do qual nunca me vou esquecer. Quando a D. Pimpolhinha nasceu, eles estavam lá, ele brincava com ela, mesmo com a diferença de idades que tinham, o Nando sempre tinha um sorriso e uma brincadeira para com ela, de tal maneira que ela tinha uma adoração por ele, o Nhando, como ela lhe chamava. Depois viemos para o Algarve e a distância, o trabalho, a ociosidade da nossa parte fez-nos falar cada vez menos uns com os outros e disto me arrependo e mesmo muito. Eles ainda cá vieram ver-nos, lembro me de lhe ter oferecido um skate esquisitissimo, pequenino e ele e a mãe, em pleno Portimão, a experimentar e a andar naquela coisa enquanto D. Pimpolha andava na bicicleta nova que os padrinhos lhe tinham oferecido, os pais dele. Na altura tinha uma grande cabeleira, fruto da moda do momento mas ficava-lhe bem, dava-lhe um ar rebelde sem de facto nunca o ser. Que eu saiba sempre foi um bom filho e responsável. A vida e o mundo da mão e do pai que não quiseram mais nenhum filho por razões que só a eles dizem respeito. Sempre lhe achei graça e acho que ele gostava de mim, falava e brincava muito comigo. Às vezes vinha ter comigo e pedia um leite com chocolate mas com espuma, feita com um aparelhinho especial que ele gostava de usar... passamos muitos serões juntos dos quais agora me recordo com avidez. A última vez que o vi, tive de ir a Lisboa com D. Tété para ela ir ver a mãe dele, já que é dentista e tinha caido um dente à D. Tété. Fomos até ao novo consultório e a mãe ligou-lhe de imediato para ele vir ver a D. Pimpolha e para nós o vermos. Enquanto esperava que ele chegasse e como a mãe tinha dito que ele agora tinha mota e que trabalhava numa pizzaria a distribuir pizzas, fiquei à espreita a ver se o via. Apareceu um miudo e eu achei que era ele. Não era, estava a imaginá-lo mais jovem, mas esqueci-me que a vida não para e que ele já tinha crescido mais um bocado. Já não era aquele miúdo que eu conheci, mas um jovem adulto. Quando ele apareceu fiquei espantada. Alto, bonito, responsável...até tive vergonha de ter pensado que momentos antes ele era aquele outro. De cara estava igualzinho! Fomos tomar um café e a D. Tété, que tinha levado a máquina fotográfica, insistiu em que D. Pimpolha tirasse uma fotografia com o seu Nhando...D. Pimpolha confessou-me na casa de banho que estava envergonhada por causa dele, acho que houve um momento na sua ainda muito jovem vida que ela gostou dele... Lembro-me que insitiu em pagar o lanche e eu, embasbacada por aquele já não miúdo me querer pagar um lanche, recusei claro e paguei eu... Despedimo-nos e voltamos para o Algarve. A vida foi rolando como tem de rolar e ontem, a cerca de 100 metros de casa, foi abalroado por um carro na sua faixa de rodagem, um carro em contra-mão! Merda para isto!

Nando, adorei conhecer-te! Merecias muito mas mas sei que embora tenhas partido nesta altura tão jovem da tua vida, que viveste uma vida saudável, amado pelos teus pais, familiares e amigos... Nando, vou ter saudades mesmo que nestes últimos anos não tivessemos tido o contacto que deveriamos ter tido... Nando vou-me lembrar de ti! E rezar por ti! Gi e A....não há palavras... apenas lamentos....

2 comentários:

  1. Bom dia minha querida comadre,nossa linda familia amiga;

    De momento não temos palavras, e como temos que nos conter para conseguir chegar ao fim de tão linda msg a respeito do nosso lindo diamante que acaba de ser chamado para ir construir um novo projecto, à sua maneira...
    Temos esse filhinho com muito orgulho bem lá no fundo dos corações... Como pais jamais o esqueceremos. Ao mesmo tempo foi outra luz que se abriu qdo conseguimos conquistar a confiança de mais um casal e de seguida toda a sua família...Adora-mo-los muito. Até sempre meus lindos... Do coração, um adeus daqueles... (Álvaro e Gi).

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  2. Adorei que tivessem lido e que tivessem gostado do que escrevi, mesmo muito mais se podia dizer do anjo que existe lá no céu a olhar por nós com aquele sorriso tão doce e por uns breves meses brilhante com o brilhantezinho que a Gi lhe colocou no dente... Penso muito no Nando e pelos vistos a D. Pimpolha também porque, embora só tenha 7 aninhos, lhe contei o que se passou e no outro dia, do nada, iamos no carro só as duas e até sem falar, ela se virou para mim e disse:
    -Mãe, já dei um recado ao Nando!
    - Como assim, deste um recado??? Como podia ser que aquela miuda se lembrasse e me estivesse a dizer aquilo...
    - Quer dizer, eu falei com ele na minha cabeça porque ele já não está aqui, eu sei...
    -Ai foi? E o que lhe disseste?
    -Disse que gostava dele e agradeci-lhe ter brincado comigo e que tinha pena do que lhe tinha acontecido!
    Fiquei de boca aberta, de lágrimas nos olhos mas com aquela sensação de que ela não só tinha entendido que o Nando já não está nesta terra e sim no céu e que tinha aceitado a sua morte porque ele a tinha ajudado a aceitar. Foi estranho mas muito gratificante. As crianças são assim, e as crianças destinadas a serem anjos também... Adeus e obrigada!

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