quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Há dias...mas hoje não é um desses dias!

          Há dias em que dou por mim a pensar se quereria uma vida diferente daquela que tenho... não posso negar que a vida que um dia idealizei para mim, numa embaixada num país longínquo qualquer, um país quente e húmido ou um país coberto de um manto branco na maior parte do tempo, tem o seu quê de fascinante ou a vida que um dia tive, sempre dentro de um avião de um lado para o outro, de férias a toda a hora... sim, sinto saudades especialmente desta última porque adorava ser assistente de bordo, um emprego que nunca em tempo algum tinha sonhado ter e de repente caiu assim do céu... Bons tempos esses! Tão diferente daquilo que vivencio hoje...
 



Para alguns parar é morrer e preferem as cidades cheias de buliço. Reconheço que tenho saudades, que sempre que vou a Lisboa fico a admirar edifícios, paisagens citadinas, eléctricos amarelos, jardins, ruas...amo Lisboa, amo a confusão, os carros as buzinas, as pessoas tão diferentes umas das outras, é verdade!











Embora muitíssimo diferente, amo a vida que tenho! Arrependimentos? Costumo dizer que não os tenho mas na realidade, passava bem sem umas quantas decisões que tomei que me fizeram a vida num inferno, mas apenas numa parte dela...
Adoro estar onde estou, poder descansar quando o resto de Portugal dá o litro (sim é mesmo bom), poder passear e apanhar os raios de sol de inverno, poder ver a minha filha brincar na rua com as amigas, andar por aí e conhecer e ser conhecida por tanta gente... Porque se tivesse continuado na aviação que adoro, talvez esta vidinha pacata que tenho não existisse nunca.

Mas também adoro, amo mesmo estar aqui onde estou, viver docemente, calmamente, a saborear o ar, a praia, o mar, as pessoas originais, a suave rotina diária, o saber que se não for e fizer hoje, há tempo para fazer... porque me permite usufruir da minha filha, do meu bebé inesperado e tão delicioso, do meu marido...




Ás vezes desejo que fosse possível viver duas vidas e imagino que numa outra vida eu seria actriz de teatro, assistente de bordo, embaixadora, sim porque no fundo, no fundo, sou criança como a minha filha e quero tudo, o possível e o impossível, morar numas águas furtadas no meio de Lisboa, viver num avião e num aeroporto sempre sem poiso definido, viver num país tipo Vietname ou Rússia..
 
Mas penso que realmente o que eu mais desejo, se olhar bem para dentro de mim, é aquilo que já tenho. E isso é maravilhoso!
 
 O resto...o resto posso sempre viver, através dos livros, dos filmes, dos sonhos...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Mãe duas vezes ou mãe de segunda?

Há 10 anos atrás e depois de um casamento muito desejado, fui mamã de uma bonequinha linda.
Apesar de já ter feito babysitting, as coisas nunca são assim tão fáceis. Ao fim de quase 5 meses sentia me a entrar em depressão pós parto. Cheguei ao ponto de não saber onde tinha colocado a bebé, se no berço, se na cama, se a tinha em cima de mim... foi desta forma que entendi que precisava de ajuda. Sim tinha a minha mãe presente com todo o conhecimento e desconhecimento que uma mãe pode ter, mas como sempre fui teimosa não quis o conhecimento dela. Virei-me para pessoas estranhas à família, conversei, chorei mas mesmo assim senti que não era o suficiente. O ponto de viragem sucedeu quando ela não parava de chorar e eu dei-lhe uma palmada no rabinho com mais força do que seria desejado e ela chorou, chorou mais ainda e com mais força do que tinha estado a chorar. No dia seguinte saí de casa, fui à FNAC e procurei um livro com o qual me pudesse identificar, não me lembro do titulo do livro mas achei que era aquele e comprei-o. Li o livro todo e identifiquei os meus problemas, parecia que o autor estivera na minha casa a ver-me com a minha filha. Mas melhor que isso, o livro falava em soluções, dizia para estabelecermos rotinas, que eram das coisas mais importantes na vida de um bebé recém nascido, para além do alimentar, proteger e amar, claro. Segui à risca e nesse mesmo dia e porque já não sabia o que era deitar-me na cama e dormir, nem que fossem apenas duas horas de seguida, deitei a bebé no berço e fugi para casa dos vizinhos onde me refugiei sabendo que o pai estava lá em caso de algo acontecer. No dia seguinte fiz o mesmo e no terceiro dia, a minha filha foi deitada no berço às horas que eu tinha estabelecido, olhou para mim e não chorou. Eu vim embora e ela adormeceu sozinha.
 
Quando conto isto a amigas e mamãs, acham que eu já sei muito, que já sei como cuidar de um bebé e quando souberam que estava grávida de novo disseram... Tiras isto de letra! Pois! Qual letra? A I de indecisão, a D de desconfiança, a P de perdida...
O meu príncipe nasceu e tentei aplicar o que sabia, o que tinha lido e tinha resultado da primeira vez.
 
Hoje o meu príncipe está grande, parece um Buda, tem 2 mesinhas apenas e sinto-me tão perdida como me sentia com o meu primeiro filho. Certo que não nas mesmas coisas porque essas tiro mesmo de letra, o príncipe vai para o bercinho e, às vezes chora um pouco, uns 2 minutos, mas por norma já adormece sozinho... agora noutras coisas...
 
Com tudo o que lemos, o que sabemos, o que aprendemos da nossa própria experiência e da dos outros... fomos ao pediatra e o diagnóstico foi: O bebé está óptimo! Godinho, tem uns senhores respeitáveis 6 kilos e meio mas como apenas mama não há problema porque quando começar a gatinhar vai perder o excesso naturalmente... mas e estes mas dão cabo de nós, está com um torcicolo! Tem tendência para a esquerda... fora de brincadeiras, a cabecinha está sempre virada para o seu lado esquerdo, uma posição que adquiriu como confortável quiçá já na barriguinha da mamã ou pelo facto de passar muitas horas na espreguiçadeira. Quer dizer eu não o atiro para lá ficar o dia todo, passeamos dentro e fora de casa mas quando se trata de dormir ou para eu descansar ou fazer alguma coisinha, o bebé era realmente deixado ali. O resultado é perturbador mas segundo o Dr tem solução... Tem um dos lados da cabecinha mais achatada o que se não tivesse sido apanhado a tempo (graças a Deus e ao Pediatra foi) poderia resultar em má formação craniana e do cérebro.
 
Pronto o bebé com 2 meses vai fazer terapia posicional... E digo vos já que é torturante para ele e para mim. Já não basta o peso gigantesco da culpa como vê-lo a ser revirado para o lado que não gosta e consequentemente, se sente desconfortável e por isso chora copiosamente, é de partir o coração. Foi uma hora de birra, de lágrimas sentidas mas sem dor, segundo a terapeuta. Mas que sabe ela de verdade? Eu senti dor! Dor na alma de o ver tão triste, tão indefeso nas mãos dela, mãos profissionais sim mas mãos que o obrigavam a estar em posições que ele não gosta. E disse ela que muitas mães choram desalmadamente ali... pois eu não chorei mas tive vontade, vontade não só de chorar como de lhe dar pancada e de arrancar o meu bebé das suas mãos torturantes.

Enfim, só para provar que uma vez mãe, não é como aprender a andar de bicicleta, ou talvez seja... uma vez mãe, para sempre mamã, o problema é que os miúdos são todos diferentes e não vêm com manual de instruções!

Um dia de cada vez, passou a ser o meu mantra desde que ele nasceu... um dia de cada vez!