Tá resolvido! Não quero envelhecer!!!
Quando falo com amigos cada vez mais me convenço de que é um desperdício envelhecer, e não me venham com histórias de que é bom termos os filhos e netos e tempo para aprender coisas novas e visitar sítios que não pudemos enquanto novos... Oh vá lá!!! A sério??? Muitos são os "velhos" que vejo passarem os dias sozinhos não porque a família não lhes liga mas porque por e simplesmente não têm tempo para lhes dispensar. Eu sei que visto desta maneira é cruel. Mas se esmiuçarmos bem as coisas não é, é apenas falta de tempo mesmo! Ora veja-se, saímos de manhã à pressa para levar as crianças à escola e vamos logo a correr para o emprego porque os tempos estão difíceis e não convém chegar tarde pois, se não formos nós, há uma série de candidatos ao nosso lugar que com o desespero crescente da falta de emprego e segurança, se predispõem a fazer o mesmo por uns trocos a menos... Depois no fim do dia, vamos a correr buscar os miúdos porque as escolas conseguem fechar mais cedo do que nós conseguimos sair dos trabalhos e já estamos a pagar os minutos extra que as escolas cobram por ficarem a tomar conta das nossas crianças fora das horas estipuladas. De repente e quando estamos a caminho de casa, lembramo-nos que não temos pão ou leite e vamos a arrastar as criancinhas até ao supermercado mais próximo e acabamos por comprar o dobro do que realmente queríamos... Cheias de sacos e mochilas e casacos e bonecos, voltamos para casa e atiramos com as compras para o chão, não há tempo para as arrumar, e vamos pôr as nossas criancinhas no banho. Devia ser um duche rápido mas enchemos a banheira para elas irem brincando enquanto rumamos de novo para a cozinha para imaginar algo para o jantar( até agora não houve tempo para pensar sequer no que faríamos quando chegássemos porque na realidade não nos lembramos o que temos em casa para fazer)... Somos constantemente interrompidos pelos berros das criancinhas que não nos largam e nos chamam de volta à casa de banho para nos mostrarem que afinal a barbie sabe nadar... grrr de volta à cozinha tentamos arrumar as coisas e berramos ao marido para nos vir ajudar, dilema, ajudar em quê? é melhor que seja a arrumar as coisas nas prateleiras porque para terminar o banho tem de ser a mãe porque as criancinhas por norma preferem as mães para lavar cabelos e tirar do banho e esfregar o corpinho e secar o cabelo...e por aí em diante! Preparamos-nos para a guerra porque por mais que nos custe enfiar os miúdos na banheira, acreditem custa muito mais tirá-los de lá... Finalmente cá fora, atiramos com elas para cima da nossa cama embrulhadas em toalhas dos pés à cabeça e emprestamos aquele nosso brinquedo caro que juráramos nunca emprestar mas que afinal dá tanto jeitinho para as manter ocupadas enquanto vamos terminar de fazer a sopa e começar a descascar batatas ou quem sabe fazer arroz que é bem mais fácil, já vem descascado, para acompanhar uns bifes ou afins... Com isto tudo já são quase 7 ou 7.30 da noite. Um berro lá de dentro lembra-nos que deixamos as crianças embrulhadas e que o pai resolveu ir dar uma ajuda e está a puxar cabelos, porque nem todos os pais têm jeitinho para desembaraçar os cabelos que obviamente vêm da escola cheinhos de nós porque as crianças andaram a correr com os amigos, como deve ser! Voltamos a correr e pedimos ao pai para ir ver se a sopa não derrama tornando a cozinha num autêntico desastre da natureza. Como não temos o tempo devido para com cuidado e carinho desembaraçar os ditos cabelos delicados, acabamos por fazer a mesma figura do pai e puxamos cabelos e secamos tudo muito rápido porque afinal já são quase 8 da noite e ainda não comeu e nem passou os olhos pelo livro de leitura e nem brincou um bocadinho. Finalmente e depois de procurar e vestir o pijama e fazer uma trança, não por vaidade mas por necessidade, porque se não o fizer é o mesmo sarilho para desempeçar cabelos pela manhã, corremos para a cozinha e enquanto as crianças fazem os TPC's, com a ajuda do pai, nós acabamos finalmente de fazer o jantar... 8.30 e eles deitam-se às 9h... Pai dá uma ajudinha e põe a mesa por favor..., no meio disto tudo acho que ainda não tirei o casaco e já tenho suores e não são frios... finalmente todos sentados à mesa e é o do costume, "Mãe não me apetece comer a carne, é dura, não quero alface, podes me cortar a carne, podes me dar à boca, posso ver bonecos..." O jantar é passado entre frases típicas tais como, "Come por favor!" ou então "Vá lá só mais um bocadinho!", ou outra do género "Se na escola e em casa das tuas amigas comes legumes aqui também comes!" e finalmente a rotineira "Já me estou a irritar!!!" Chegados finalmente ao fim da refeição deixamos brincar uns 5 minutos porque o relógio já bateu as 9h e amanhã temos de acordar bem cedo... O pai fica a tirar as coisas da mesa enquanto com jeitinho arrastamos os miúdos para lavarem os dentes e cama!!! Mas as coisas não são assim tão fáceis, primeiro temos de lidar com " Já???" ou "Não tenho sono...", quando os conseguimos por na cama e porque faz dias que não lhes lemos uma história, passamos os dedos pelas lombadas dos livrinhos e em vez de escolher as mais bonitas, escolhemos as mais rápidas de ler porque temos ainda tanto para fazer... Beijinhos beijinhos e aqui sim, tiramos uns minutos para lhes dizer que os amamos e que lhes desejamos uma boa noite!!!
De volta à cozinha, toca a tirar a loiça do dia anterior da máquina e colocar a de hoje e arrumar o que resta em cima da mesa e a cozinha, o pai também ficou a dar uns miminhos quando foi a vez dele de ir dar os beijinhos de boa noite! Lembramo-nos que amanhã é dia de natação ou de patinagem ou de outro desporto qualquer e toca de ir preparar a mochila porque de manhã é tudo muito rápido e à pressa e podemos nos esquecer de qualquer coisinha... Voltamo-nos para a máquina da roupa que tinha ficado com roupa lá dentro depois de ter finalmente acabado de lavar, porque tem de ser esvaziada mas é melhor não por a roupa a secar porque de noite não seca nada, afinal já passa das 9.30 e além disso nunca sabemos se vai chover, mas como temos mais roupa para lavar, não a podemos deixar na máquina que era onde ficava tão bem... A cadela precisa de ir à rua e não apetece mas como temos de levar o lixo, lá pomos a trela e munimo-nos de saquinhos para os dejectos sólidos, porque como não há terrenos nem jardins onde possam fazer, temos o dever cívico de apanhar e deitar no lixo, não me importo porque mantenha a zona à frente de minha casa mais limpa, claro se fossemos todos assim..., o que importa e muito é ter-me tornado vassala da cadela e vem-me à memória tempos em que não havia casas de banho e fazíamos nos penicos que depois eram despejados pelos criados, pronto mas não me posso queixar porque fui eu que quis ter a cadela para ensinar responsabilidade à criancinha e etc, claro que para isso deviam ser as criancinhas a passear os animaizinhos, a dar de comida, a dar banho e essas tarefas acabam forçosamente por cair nas costas das mamãs e dos papás...
De volta a casa há que passar roupa que já faz pilha em cima da tábua de passar e damos por nós a optar por passar só a roupa do dia seguinte porque já estamos muitíssimo cansados para passar mais. O pai anda às voltas a arrumar o seu escritório... Já são umas 10 da noite e lembramo-nos que o melhor será ir já preparando a lancheira das criancinhas para o dia seguinte, lástima os tupperwares vêm sem tampas porque as crianças não querem saber e lancham em qualquer lado da escola e começam num sítio e acabam noutro e a tampa ficou no sítio da partida... enfim com isto tudo damos pelas horas e lembramo-nos que temos de ligar aos nossos pais ou avós e pedimos muitas desculpas por não termos ido lá e por só estarmos a ligar àquelas horas e contamos o nosso dia e quase não damos por ter monopolizado o telefonema quando o intuito era saber como eles estavam...
Agora vamos ver o lado dos avós, uns passam os dias em casa a ver televisão, ou então a limpar e arrumar a casa pela trigésima vez, não vá ter escapado um pózinho qualquer, ou vão até ao café do costume, se ainda tiverem forças para andar, e ficam por ali, com uma chávena de carioca de limão á frente a ver as pessoas passar, a lembrar os velhos tempos ou a dar dois dedos de conversa ou com o empregado do café que tem muita paciência para ouvir falar dos filhos e dos netos e das histórias que já se esqueceu que já contou em tantas outras ocasiões... ou com uma amiga ou amigo que entretanto também por ali passou. Há aqueles sortudos que combinam um lanche todos os dias e para tal vestem-se a rigor como nos bons velhos tempos e passam a tarde a contar histórias dos tempos idos, de vez em quando alimentadas por histórias novas dos filhos e dos netos... Ir aprender coisas novas...é só para alguns, isto dos computadores faz-lhe muita confusão até porque, em primeiro lugar já não vêm como antes e têm dificuldade em estar muito tempo a olhar para um ecrã, depois cursos gratuitos não são muitos por aí e quando os há o mais provável é serem longe e não terem quem os leve, ou por e simplesmente acordaram com mais dores de reumatismo e não lhes apetece ir e serem tratados como criancinhas pequenas, como é uso e costume quando se lida com pessoas idosas... Passear para quê? Já não podem comer o que lhes apetece porque lhes pode fazer mal, de fato de banho não ficam nada bem ou então não podem apanhar sol e muitos há que não sabem nadar, porque nos seus tempos por e simplesmente não se aprendia porque também não tinham muito o costume de ir para a praia e piscinas nem pensar... Vão para onde? Para a Republica Dominicana? É muito longe e como não fazem praia ficavam-se pelo hotel a fazer o mesmo que no café lá da terra, sentados com um carioca qualquer a ver as pessoas novas passar, ao menos ali podia falar "mal" que ninguém a percebe, mas também tem muita dificuldade em perceber... Os netos não quiseram ir com a avó ou então se foram andam pela praia a apanhar sol e a fazer surf ou mergulho que é coisa que a avó com toda a certeza nunca será apanhada a fazer... Não senhor, o melhor mesmo é ficar no seu canto onde ainda conhece alguém...
É para isto que eu me encaminho??? Com certeza que terei alegrias mas também tristezas... Lembro-me da minha avó, uma mulher lindíssima que fazia cabeças virar no seu tempo e que no fim passava mais tempo com a Senhora que tomava conta dela do que connosco, e se há filha que adorava e adora ainda a mãe, é a minha mãe! Mas vivíamos em Lisboa e só cá vínhamos nas férias e festas porque a minha escola era em Lisboa e os trabalhos também... Chegou a ir viver para Lisboa para estar mais perto da filha e neta mas as pessoas, as ruas eram muito diferentes e todas as suas amigas e conhecidas estavam no Algarve, por isso voltou. Nunca foi para um lar porque não queria, nem ela nem nós, e então via televisão, adorava a cadela e fazia-lhe muitas festas e passeava-se até ao café, muito bem vestida e arranjada e via as pessoas passar e de vez em quando via uma amiga e convidava-a para tomar o lanche... Sou sincera, não sei se é assim que quero passar os dias, ainda para mais com a crise que para aqui vai, vou chegar lá sem reforma, a pagar caro os medicamentos e consultas médicas e afins...
Resumindo e concluindo, o melhor mesmo é viver esta vida dia a dia e quando lá chegar, ter um telemóvel com capacidade para fazer facecalls para ir vendo os netos e os filhos sem estes se sentirem na obrigação de vir visitar aqui a avózinha...
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