Cada vez penso mais que tenho de ir por essas terras fora começar a cultivar a minha hortinha... Cada um dos meus amigos já o começou a fazer e é giro vê-los a falar das cebolas e das couves e dos nabos e espinafres e afins... falam com orgulho porque foram eles que os plantaram e tomaram conta, porque no fim, quando os vão saborear sabem melhor, não por serem melhores o que com toda a certeza serão pois são cultivados com carinho e livre de pesticidadas e coisas que tal, mas porque é deles, porque semearam e colheram o seu trabalho... Ainda ontem fui com uma amiga buscar favas. Embora de burra eu não tenha nada, o que é facto é que ainda lhe fiz umas perguntitas sobre como fazer, como descascar, sei lá... A minha geração está mais que habituada a ir ao supermercado e comprar o já preparado, o já descascado e o já congelado, mas hoje em dia em que tantos jovens casais se estão a virar para a agricultura, é giro aprender estas coisas, que não têm nadica de nada de especial mas que vamos esquecendo por força da vida que vivemos. Hoje vou mais vezes à praça comprar directamente ao produtor do que vou ao supermercado. E D. Pimpolha acha o máximo ver aquelas verduras todas e frutas todas... às vezes aparece por lá uns galos ou galinhas vivas e ela pergunta porque ali estão e fica a modos que espantada por perceber que estão ali para serem mortas e depois irem parar à panela. Para ela é difícil de entender a relação daqueles bichos vivos e dos que lhe ponho no prato já cozinhados e prontinhos a comer... Frango é só aquela carne que comemos, para ela não eram as galinhas que víamos no mercado e que, assim que soube o seu destino, ficou tristinha mas entendeu que a vida é assim mesmo. Cada vez oiço mais gente a partilhar viveres. Hoje oferecem-me uma abóbora, amanhã umas laranjas ou umas favas e eu, que tenho eu para oferecer se não tenho horta??? Bem lá vou fazendo umas compotas com o que me dão e depois ofereço a dita cuja já feitinha, sem corantes e sem conservantes mas tão ou mais gostosas. Lá por casa já não se compra mais doce de supermercado. Faço eu e Dom Maridão adora e eu também que não passo sem um pequeno almoço adoçado com doce da casa (verdadeiramente).
Deram-me umas laranjas e resolvi espreme-las atá ao tutano, que é como quem diz, fiz sumo e com a casca da laranja que sobrou, fiz compota de casca de laranja e que bom que ficou. Ainda fiz um bolo e mais doce de laranja. Aquelas não se estragam de certeza.
Como as coisas estão é bom ver as pessoas a aprender a viver e a bem comer e a melhor cozinhar. Com 3 bifes de frango ou de peru ou mesmo de vaca, fazemos lá por casa uma almoçarada que ainda sobra para mais uma ou duas refeições porque aprendi a poupar e a fazer render... É bom, muito bom porque como temos de acrescentar uns legumes, a refeição fica muitíssimo mais saudável do que quando pegava nos mesmos bifes e apenas fritava ou grelhava... A vida está assim! É preciso sermos espertos e saber dar a volta à coisa para que os nossos filhos não passem fome e em especial para que eles saibam como fazer quando for a vez deles, quando forem mamãs e papás. A crise ao menos serviu para isto. Para nos emendarmos e reaprendermos a viver, nem que seja pelos nossos cozinhados.
Bolos lá por casa, só caseiros, doces caseiros, só me falta fazer pão e pronto ( só não faço porque dá uma trabalheira deixar levedar para crescer e eu cá gosto de fazer e não esperar mais que o necessário para o coser... mas qualquer dia dá-me na veneta e também já nem pão compro!). Fora os comes, já não compro mais bandeletes para a melena de D. Pimpolha, ela escolhe as cores e os bonecos e eu faço, malinhas rikikis feitas de trapillo para a praia ou lápis ou desenhos, também passaram a ser feitas pela mamã aqui. Até os ditos tererés que tanto êxito tem tido nos verões, passam a ser feitos em casa que eu também já aprendi a fazer. Homemade passou a ser o meu lema desde que tudo isto começou e que muito tem feito rir Dom Maridão que tão bem me conhece e sabe que o meu lema era mais do tipo, comprado é que é bom. Pois mudei! Hoje penso o contrário,por força das circunstâncias mas muito satisfeita estou. Tenho procurado outras fontes de rendimento para fazer face à crise e devagar as oportunidades têm surgido ou vão surgindo. Não me paga as dívidas, e nem me repõe o sono ou me leva as insónias, mas dá-me a sensação de estar a fazer algo para combater... mesmo que por vezes sinta como uma batalha perdida... ao menos vou tentando como posso...
E por isto tudo está visto que tenho mesmo de arranjar um cantinho de terra para plantar os meus viveres, mais que não seja para a troca!
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