terça-feira, 9 de abril de 2013

Histórias do meu imaginário - Uma noite assim...


2ª História


Logo hoje que tinha planeado uma noite em cheio, com jantar à luz das velas, uma musica romântica , a lareira acesa...tinha de ficar com gripe. Hoje ia ser uma noite mágica, era Noite de Fim de Ano e os dois tinham decidido passar juntos, em casa, aconchegados, a ver televisão e a amar-se. Não podia ser! Já tinha tudo preparado, o jantar, as sobremesas, o vinho... "Bolas" pensou irritada. Foi à farmácia na esperança de algum comprimido milagroso que lhe resolvesse aquele inesperado problema e lhe permitisse passar a noite há muito imaginada, azar! Teria de ir a um centro de saúde para lhe passarem algum antibiótico e sendo o dia que era, já todos se tinham ido embora, também eles na expectativa de uma passagem de ano memorável. Não foi. Foi antes até à sua farmácia doméstica e engoliu uns quantos comprimidos para a febre que se avizinhava e para a tosse. Olhou para o vestido escolhido de propósito para aquela noite mágica diligentemente pousado em cima da sua cama. Passou a mão esquerda por cima do tecido. Era raro encontrar um vestido que ao mesmo tempo ela adorasse e lhe assentasse como uma luva. Aquele era assim. Amoroso mas ao mesmo tempo sexy. Tinha pensado ir até ao cabeleireiro arranjar-se um pouco, fazer uma manicure francesa, a depilação... A única coisa que tinha feito era esta última e para mais já não teve coragem... A cabeça parecia que ia explodir de dor. A zona em redor do nariz estava pesada devido ao seu nariz estar entupido o que lhe afectava os ouvidos... "Raios, raios, raios! Porque tinha de ficar doente logo hoje?" A doença não escolhe dias e nem é malvada e escolhe dias especiais, mas mesmo assim ela culpava a gripe como se de uma criminosa se trata-se.
Foi até à cozinha e começou a preparar o jantar. Deitou um pouco de liquido vermelho num copo e foi bebericando tendo consciência que o não devia fazer, misturar comprimidos com vinho não era a atitude mais inteligente, mas do modo como se sentia, mandou a consciência passear e continuou a bebericar. Tudo foi preparada ao pormenor, mesmo debaixo de uma sensação de mal estar constante. Decidira que ia tentar ao máximo. Amanhã podia ficar de cama, amanhã podia ficar com febre e tosse enfiada nos seus lençóis, mas hoje não!
Sem saber bem porquê, decidiu fazer uma açorda de marisco para os dois seguida de uma carne no forno com batatinhas assadas e legumes salteados. De sobremesa uma mousse de chocolate caseirinha porque ele adorava, e diga-se de passagem que ela também.

A noite chegou e a hora dele chegar também. Abriu a porta de semblante tristonho mas linda de morrer, ou pelo menos assim lhe pareceu a ele, que a olhou de alto abaixo e sorriu. Abraçaram-se e beijaram-se mesmo depois de ela ter negado com medo de lhe pegar tamanha gripe. Ele não se importou. Preferia mil vezes passar aquela noite assim, com ela doente e arriscar uma gripe, do que em outro lugar qualquer. Sentaram-se à mesa e desfrutaram do jantar, calmo, ao som de uma música suave e romântica e à luz de velas. Sorriram, conversaram, pegaram nas mãos um do outro, beijaram-se...
Depois refugiaram-se à frente da lareira, tapados com uma manta castanha e peluda, cada um com um copo na mão e a garrafa pousada bem perto da lareira para ir aquecendo naturalmente... Ele pôs-lhe o braço em volta dela e aconchegou-a mais para si. Naquele momento ele era o seu porto seguro, o local onde ela queria ficar até não poder mais. Amavam-se! E amaram-se ali, em frente daquele lume que crepitava e bailava como que ao som daquela musica suave e adormeceram e nem deram pela meia noite chegar. Lá fora muitas pessoas gritavam e faziam barulho e recebiam o novo ano cheios de esperança de uma vida melhor, dançavam, batiam com tampas de panelas, deitavam foguetes e assim ficaram até o frio da noite lhes bater à porta. Uns voltaram para suas casas, outros partiram para locais de entretenimento. Mas eles os dois apenas dormiram, o sono dos justos, abraçados e quentinhos. Assim ficaram até ao outro dia, o primeiro daquele novo ano e o primeiro das suas vidas em conjunto.

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