segunda-feira, 3 de junho de 2013

Desabafos emocionais...


Acabei de ver um filme terrível sobre as maldades que o ser humano é capaz de fazer ao nosso planeta e aos nossos animais e como ando tão sensível e desequilibrada pus-me logo a chorar. Depois li que uma pessoa com a qual já trabalhei diz ter atingido todos os seus objectivos de vida e sonhos e chorei mais ainda. É que eu sinto o oposto dela. Se for analisar a minha vida toda, sei que triunfei na minha vida pessoal a nível amoroso, adoro a minha família, o meu marido, a minha filha, mas infelizmente e por razões que nunca saberei enunciar, não tenho contacto nenhum com mais familiares que não sejam os meus pais e os pais do meu marido e muito pouco com estes... Resolvemos vir morar para os algarves e todos os meus amigos e conhecidos, aqueles que eu podia contar para me animarem, ficaram por lá, agora sinto-me sempre sozinha. Tenho pessoas conhecidas aqui também, mas é muito diferente. Sinto falta da palavra amiga, dos cafés, dos chás, das incursões aos centros comerciais apenas para, como dizem os americanos, hang out... A nível laboral, a coisa nunca foi boa, ou porque os meus pais nunca me incentivaram, ou porque tenho uma falta incrível de ambição, ou porque parte de mim gostaria de ficar em casa, mimar a casa e a filha e outra parte de mim quer vencer o mundo, mas ambas as partes sabem que os dois sonhos em simultâneo não são possíveis. A única vez que fui feliz, mas mesmo feliz naquilo que fazia, quase todos os outros não gostavam e eu, como sempre, acomodei os sentimentos dos outros, arranjei desculpas para me convencer a mim mesma e deixei o único trabalho que adorei, voar. Chamaram-me empregada do ar, insinuaram que seria rameira, que por andar sempre de um lado para o outro me iria envolver com mais pessoas, minaram a minha relação e o meu espírito e acabei por deixar. Acomodei-me noutro emprego, um que me permitisse estar em casa, com a minha filha recém nascida, convenci-me que era o melhor para ela e para o meu marido, mas a mim e para mim, nunca me convenci... Fui convencida a vir morar para o algarve, para acomodar os desejos do meu marido algarvio, arranjei trabalho cá por baixo e pensei que vindo para cá, ao menos teria um maior ambiente familiar pois estaria perto dos meus pais e dos pais dele. Não foi isso que aconteceu, soube por portas e travessas que nos queriam lá em cima,em lisboa e fui culpada por trazer a família para o algarve quando eu própria tive de ser convencida. Depois entrei num emprego de lobbies, de grupinhos que não deixam entrar ninguém, fui desprezada, mantinham-me a trabalhar às noites quando tinha uma pequenita à minha espera em casa, fui-me desinteressando tanto quanto eles me foram desiludindo, fora quebrando o meu espírito alegre e hoje, sei pelo meu marido e pela minha filha, que já não sou a mesma pessoa que fui antes, alegre e brincalhona, disposta a tudo, a dar 200% de mim em qualquer emprego. Parece que só aqueles que nada fazem, que ignoram e maltratam conseguem ser alguém, tive colegas, sem filhos que apenas viviam para serem jovens, que saiam em grandes noitadas, chegavam ao emprego sem dormir, mal disposto e até chegaram a vomitar em pleno trabalho por uma ressaca brutal, e a estes, era-lhes dado quase sempre o turno da manhã porque eram mais responsáveis... cansei, e cansei-me de dar tudo. Fiquei no desemprego e desesperada mas um dia fui trabalhar com o meu pai... Ainda hoje me lembro das palavras de uma colega - Não vás! Nunca dá  certo... Eu pensei que daria, e mais uma vez predispus-me a tudo fazer, desde atender clientes, fazer limpeza, compras, decoração... e mais e muito mais... assinei o que não devia, pus o meu cunho em esperanças e sonhos que viraram pesadelos. Hoje tenho quase 40 anos e não sei o que fazer da minha vida.A qualquer momento perco o chão e por mais que eu me tente agarrar, não sei se vai ser possível. Acreditei sempre nas palavras, nos números, nos castelos no ar, acreditei em quem tinha de me ensinar e proteger, assumi que essa pessoa tudo sabia e eu, que eternamente me sinto não preparada para a vida, assumi que ele estava e o sabia. Agora sinto em cima de mim o peso do mundo e não sei até quando consigo aguentar o barco. A vergonha, o medo, a perda, vem tudo aí numa bola de neve cada vez maior... A minha vida parece um castelo de cartas, com uma base firme mas quanto mais alto fica, mais frágil e mais sujeito às intempéries... Hoje, quero um novo emprego, full time, part time, e por já ser quase quarentona, embora tenha consciência de que não o pareço, sou rejeitada apenas pela idade. Querem gente jovem e inconsequente, meninas bem feitinhas, cheias de manias e coisas giras.... Não me incomodam, o que me incomoda é o facto da idade da reforma ser cada vez maior, mais velha, mas o mundo do emprego não acompanha esta tendência, porque para o mundo laboral os 40 são o top do top... E agora que faço eu que, por causa de merdas e tretas nem do subsidio de desemprego me posso servir... O meu mundo está prestes a ficar das avessas e apenas consigo pensar na minha filha, tão inocente, tão linda e prometo-me vezes sem conta nunca, mas nunca pedir empréstimos em nome dela, nunca lhe pedir assinaturas em coisa nenhuma que a comprometa num futuro próximo... eu não tive escolha quando era miúda e quando adulta, embora tenha tido escolha, foi-me quase imposto com as tais promessas douradas... agora carrego tudo em cima, e pior, pus também aos ombros de quem um dia me disse sim num altar maravilhoso, num dia inesquecivel, uma promessa de amor finalmente selada após tantos anos... que faço eu agora? Não vejo luz ao fim do túnel e sei que não posso ser assim porque não atraio nada de bom com pessimismo, mas a minha faceta de balança é desequilibrada e pende sempre mais o emocional que o racional, pudera, com tudo o que tenho para pensar e resolver sem ter como... quem dera ganhar o euro milhões para pagar tudo aquilo que devo, não queria carros, nem casas, Deus me livre de mais responsabilidades, nem viagens, nem nada, apenas queria pagar coisas, coisas que me foram dadas tão facilmente sem pensar... às vezes queria voltar atrás no tempo, apenas 5 anos, chegava para corrigir o mal que inconscientemente alguém me coagiu a bem a cometer... enfim... só me resta esperar para ver, encolhida à espera da colisão frontal que para aí vem... Tem sido desviada algumas vezes, permitindo-me respirar de alivio, mas apenas por segundos... Ao que isto chegou, desejar ganhar a sorte... sim porque os investimentos que temos feito, assim que a minha pessoa para lá entra, parece que eles param de dar lucros... nem esses me safam, quando há uns meses seguiam o seu curso direitinhos... o pior é olhar para com quem tenho responsabilidades e não saber o que dizer por não ter como acertar as contas, e ter de os ver todos os dias de cabeça baixa como que a pedir mil desculpas pelo sucedido... Quem dera ser índia, levantar de madrugada para apanhar comida, viver sem roupas e marcas, sem dinheiro e sem tecnologias, ainda deve haver nalgum sitio nesta terra onde hajam índios assim, em terras virgens onde as crianças riem a viver e vivem a rir... é isso ou o convento, mas prefiro o primeiro para poder levar a minha filha...

Os meus guerreiros, o amor, o medo, a desilusão, a amizade, a paciência, a vergonha... todos a tentar tudo por tudo para que o meu castelo de cartas não caia...

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