quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Mãe duas vezes ou mãe de segunda?

Há 10 anos atrás e depois de um casamento muito desejado, fui mamã de uma bonequinha linda.
Apesar de já ter feito babysitting, as coisas nunca são assim tão fáceis. Ao fim de quase 5 meses sentia me a entrar em depressão pós parto. Cheguei ao ponto de não saber onde tinha colocado a bebé, se no berço, se na cama, se a tinha em cima de mim... foi desta forma que entendi que precisava de ajuda. Sim tinha a minha mãe presente com todo o conhecimento e desconhecimento que uma mãe pode ter, mas como sempre fui teimosa não quis o conhecimento dela. Virei-me para pessoas estranhas à família, conversei, chorei mas mesmo assim senti que não era o suficiente. O ponto de viragem sucedeu quando ela não parava de chorar e eu dei-lhe uma palmada no rabinho com mais força do que seria desejado e ela chorou, chorou mais ainda e com mais força do que tinha estado a chorar. No dia seguinte saí de casa, fui à FNAC e procurei um livro com o qual me pudesse identificar, não me lembro do titulo do livro mas achei que era aquele e comprei-o. Li o livro todo e identifiquei os meus problemas, parecia que o autor estivera na minha casa a ver-me com a minha filha. Mas melhor que isso, o livro falava em soluções, dizia para estabelecermos rotinas, que eram das coisas mais importantes na vida de um bebé recém nascido, para além do alimentar, proteger e amar, claro. Segui à risca e nesse mesmo dia e porque já não sabia o que era deitar-me na cama e dormir, nem que fossem apenas duas horas de seguida, deitei a bebé no berço e fugi para casa dos vizinhos onde me refugiei sabendo que o pai estava lá em caso de algo acontecer. No dia seguinte fiz o mesmo e no terceiro dia, a minha filha foi deitada no berço às horas que eu tinha estabelecido, olhou para mim e não chorou. Eu vim embora e ela adormeceu sozinha.
 
Quando conto isto a amigas e mamãs, acham que eu já sei muito, que já sei como cuidar de um bebé e quando souberam que estava grávida de novo disseram... Tiras isto de letra! Pois! Qual letra? A I de indecisão, a D de desconfiança, a P de perdida...
O meu príncipe nasceu e tentei aplicar o que sabia, o que tinha lido e tinha resultado da primeira vez.
 
Hoje o meu príncipe está grande, parece um Buda, tem 2 mesinhas apenas e sinto-me tão perdida como me sentia com o meu primeiro filho. Certo que não nas mesmas coisas porque essas tiro mesmo de letra, o príncipe vai para o bercinho e, às vezes chora um pouco, uns 2 minutos, mas por norma já adormece sozinho... agora noutras coisas...
 
Com tudo o que lemos, o que sabemos, o que aprendemos da nossa própria experiência e da dos outros... fomos ao pediatra e o diagnóstico foi: O bebé está óptimo! Godinho, tem uns senhores respeitáveis 6 kilos e meio mas como apenas mama não há problema porque quando começar a gatinhar vai perder o excesso naturalmente... mas e estes mas dão cabo de nós, está com um torcicolo! Tem tendência para a esquerda... fora de brincadeiras, a cabecinha está sempre virada para o seu lado esquerdo, uma posição que adquiriu como confortável quiçá já na barriguinha da mamã ou pelo facto de passar muitas horas na espreguiçadeira. Quer dizer eu não o atiro para lá ficar o dia todo, passeamos dentro e fora de casa mas quando se trata de dormir ou para eu descansar ou fazer alguma coisinha, o bebé era realmente deixado ali. O resultado é perturbador mas segundo o Dr tem solução... Tem um dos lados da cabecinha mais achatada o que se não tivesse sido apanhado a tempo (graças a Deus e ao Pediatra foi) poderia resultar em má formação craniana e do cérebro.
 
Pronto o bebé com 2 meses vai fazer terapia posicional... E digo vos já que é torturante para ele e para mim. Já não basta o peso gigantesco da culpa como vê-lo a ser revirado para o lado que não gosta e consequentemente, se sente desconfortável e por isso chora copiosamente, é de partir o coração. Foi uma hora de birra, de lágrimas sentidas mas sem dor, segundo a terapeuta. Mas que sabe ela de verdade? Eu senti dor! Dor na alma de o ver tão triste, tão indefeso nas mãos dela, mãos profissionais sim mas mãos que o obrigavam a estar em posições que ele não gosta. E disse ela que muitas mães choram desalmadamente ali... pois eu não chorei mas tive vontade, vontade não só de chorar como de lhe dar pancada e de arrancar o meu bebé das suas mãos torturantes.

Enfim, só para provar que uma vez mãe, não é como aprender a andar de bicicleta, ou talvez seja... uma vez mãe, para sempre mamã, o problema é que os miúdos são todos diferentes e não vêm com manual de instruções!

Um dia de cada vez, passou a ser o meu mantra desde que ele nasceu... um dia de cada vez!

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